segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Aí eu virei e disse



Depois do quinto filme comprado no mesmo mês a pessoa resolve que não tem que lidar com a cara de interrogação da moça da reserva e diz simplesmente:

- É, eu não tenho uma vida amorosa! Algumas pessoas conseguem alimentar relações com essa carga absurda de trabalho e estudo que a vida moderna nos exige, mas eu só consigo alimentar um intelecto pretenciosamente grande que justifica meu fracasso emocional. E, quer saber, nem tô me saindo tão bem quanto você poderia imaginar nessa parte do intelecto, numa lógica comparação de inversão proporcional ao tamanho dos fracassos, porque, como você pode ver, minhas escolhas cinematográficas tendem muito mais ao pop que ao clássico. E eu nunca li Dostoiévski.

Então é isso. Você queria me ouvir admitir? Que seja: não sei manter relacionamentos saudáveis e fico doente com Crime e Castigo. Me dá meu filme.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Diálogo que eu escreveria se minha vida fosse um seriado americano



- Did someone ever told you that your intelligence is increabily sexy?

- Ooh, you are dangerous.

- I'm sorry?

- There were a thousand of possibilities of ways to continue this conversation with me. A hole universe of dialogues that could have been made... But you choose... you chose to be charming. I know danger when I see it and that's what it looks like.

- You are dangerous, too.

- No, I am not. I used to be the smart boy who get's in trouble because of dangerous guys. That's how I know danger. And that's why I am now the smart boy only. Excuse-me.

Não há perdão para a publicidade

Experimentei no último post colocar os links para os livros a que me referi no texto. Pensei que podia ser encarado como uma tentativa barata de publicidade do meu trabalho e resolvi me retratar. Não há retratação. É uma tentativa barata de publicidade, sim. Por outro lado, também é uma forma de agregar valor ao blog como fonte de informação, caso alguém venha a se interessar pelos livros ou pelos conceitos e tudo mais.Pretendo continuar fazendo isso. Outra coisa coisa que pretendo fazer, à medida que o blog vai ganhando um formato mais definido, é postar alguns trechos do que eu estiver lendo para compartilhar com possíveis interessados ou com desinteressados que procurem por algo interessante (pertenço a essa categoria em boa parte do meu dia).

Este blog não nasceu pronto. Ele foi feito para adquirir uma identidade enquanto eu descobria sobre quais assuntos queria falar. O nome era para ser o título de um conto que nunca - ou ainda não - foi escrito e as tags são mais brincadeiras do que uma classificação de verdade. A única coisa que eu tinha, na verdade, era a vontade de escrever e a necessidade de assumir algum compromisso com a escrita. De modo que assumi o compromisso de não desistir da empreitada.

O critério para postar coisas é basicamente a inquietação que me gerar algum assunto. A verdade é que sou uma pessoa bastante inquieta ou facilmente inquietável, de modo que a inquietação precisará estar aliada a alguma capacidade de foco da minha parte ( um pouco mais rara, digamos assim). Mas o compromisso é esse. Achar uma cara para o blog, que tem "muitas questões e nenhuma costura", como diria um psicanalista que conheci. E, quem sabe, acabar montando o quebra-cabeça dos meus próprios pedaços.




sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A ironia erótica de Thomas Mann


Arte: Isabela Taylor

A "ironia erótica" foi um termo cunhado pelo escritor Thomas Mann para definir um tipo muito específico de discurso analítico. Trata-se de um discurso que se debruça sobre as falhas por entender que é apenas a partir do que é falho e imperfeito que temos o singular. Ele assume as falhas como a essência do humano. E toma a perfeição como uma traição da humanidade. É irônico, porque, por ser um discurso, é cruel, perverso na distância que se toma do objeto sobre o qual se discursa. Mann percebe na atividade do escritor um certo grau de perversidade. É frio, ele diz, o ato de "denunciar" em palavras algo que é único e íntimo, a imperfeição. E é erótico porque é feito com amor. Mais do que aceitar a falha, busca-se compreender os aspectos mais desejáveis dela. Para chegar, enfim, à conclusão de que não se pode amar o que não é imperfeito.

Reverencia-se, mas reverência não é amor.

Para esclarecer a ideia, Joseph Campbell usa o exemplo das pessoas que não conseguem amar a noção do Deus onipotente, mas que amam a figura de Cristo, ferido, pregado na cruz. É o sofrimento, explica, que referenda esse amor. É como se, ao compreendermos a dor que as falhas de alguém impõem a essa pessoa, pudéssemos amá-la verdadeiramente. Creio que a máxima é igualmente válida para nós mesmos. Se compreendermos que uma marca ficou como o registro de um machucado profundo, passamos a gostar mais dela e do que ela tem a contar. E, por "gostar mais", não quero dizer simplesmente aceitar, mas se orgulhar mesmo.


Como quem diz: "É, essas estrias nas minhas costas são minhas digitais".

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Retratação a uma amiga

Preciso desdizer algo importante. Eu havia dito que músicas eram só músicas. Eu menti. Eu menti e o pior de tudo foi que eu acreditei nessa mentira. Não eram só músicas, não são só músicas. Nunca me deixe te fazer acreditar nisso, por mais sensato que eu possa parecer. Nunca deixe que ninguém, nem você mesma, te faça perder a capacidade de se impressionar com as coincidências como uma música que toca na hora em que você pensa numa pessoa. Existem mil explicações racionais para isso. Mas nenhuma delas é impressionante. E uma música que toca quando você se lembra de alguém é. Não importa quantas vezes isso aconteça, impressione-se de novo. E ria de tolices como a minha.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Casal

Vendo-os naquela agonia de tornar a pegar-se e se deixar ir, de infinitas nobrezas um com o outro, das encenações todas nas quais se gastavam, lutando e seduzindo-se, percebeu pela primeira vez o beneficio daquela solidão que o cercava independente da sua vontade: não era devorado por ninguém. Existia por si e para si. E, embora aquilo fosse muito triste em tantas manhãs de cama vazia e paredes geladas, naquele momento sentiu ali algo bom. Pela primeira vez algo bom. Não ser devorado era o melhor sentimento que havia.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Una pasión verdadera

Às vezes a vida imita os enlatados. Prestes a desistir do tema de monografia, surge um venezuelano saído do nada e, no melhor estilo "reviravoltas do próximo capítulo", me diz:

"Sabe, Rounane, alguns autores casam com seus temas e os estudam a vida toda. Como Marx, ou Freud. Para esses é como acontece com os que encontram o grande amor e se completam. Acasalam-se con una idea, para a ela se dedicar por toda bida. Nem todos temos essa sorte. Alguns de nós temos breves namoricos com nossos temas, escrevemos um artigo ou dois, ou mesmo nada e nos cansamos. A relação termina, acontece. Agora, parece-me que você se apaixonou pelo seu tema. Una pasión verdadera. E encontrou algunas dificuldades sérias, fato. Mas qual amor não as tem? Temo que meu conselho seja para que não desista dele tão já. Não desista tão cedo do que pode se tornar um amor".

Será que ele sabia que, naquele portunhol arrastado, estava falando exatamente a minha língua?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Soltar

Fico pensando em como seria ser uma dessas pessoas que come, come muito, para amortecer a dor. Acho que ouvi um comentário a respeito em um seriado americano dia desses e fiquei com isso na cabeça (sim, tiro grandes lições de enlatados, shame on me). Eu falei em amortecer a dor, mas o fato é que seria amortecer tudo. A dor, o tédio, a sensibilidade irritante e a alegria também. É, porque chega um ponto em que a alegria é meio assustadora. Você fica consciente demais ou cínico demais, sei lá. E, quando vê, está se preparando para a hora em que vai voltar ao marasmo. Eu sei que isso não é nem um pouco saudável, mas duvido que 15 em 20 pessoas não saibam com exatidão do que se trata. Não é saudável, mas também não é muito evitável.

Fui a uma fisioterapeuta que, olhando meu corpo, parecia estar lendo minha mão ou coisa parecida. Disse assim: "As vértebras do seu pescoço projetam sua cabeça quatro dedos à frente. Ou seja, sua cabeça sempre chega primeiro". Ok, foi um comentário puramente técnico, mas não consegui deixar de ver uma poesia irônica na coisa, afinal, se tem uma coisa que sei fazer é viver mentalmente, antes de viver de fato. Logo depois, ela mandou que eu pusesse meus ombros para trás, porque eles tinham "uma rotação em frente ao tórax", whatever that means, e começou a me explicar sobre como, para algumas pessoas, isso representa um "bloqueio do meridiano do pulmão" - ah tá - que está ligado à fluídez com que lidamos com a alegria e a tristeza. Olha aí, de novo.

Fiz os exercícios obedientemente, mas fiquei pensando: "Não, moça, deixa aí". "O que, querido?" "O tal bloqueio no meridiano, deixa assim" "Mas... não pode deixar assim, você veio aqui consertar sua coluna. Precisamos deixar fluir essas emoções todas pra... " "Moça, a senhora não me conhece, mas eu já fluí tudo quanto é fluido nessa vida... Não, não. É sério. Moça, eu já me apaixonei muito e verdadeiramente. Já deixei rolar, já tentei segurar. Olha só, eu sei que esse negócio de ser livre e leve para viver tem um puta apelo de marketing e tal, mas a verdade é que não tá rolando, ok? E não adianta me falar sobre chacras e meridianos, porque eu já fiz acupuntura e yoga, meditação, terapia e até macumba - eu tô falando sério, ah... ok, pode rir - mas essa angústia nunca passou. Eu não sou fechado pra vida. Pelo contrário. Já me enfiei num avião pra conhecer um cara que nunca tinha visto, numa cidade em que ninguém me conhecia. Já me deixei levar e já saí levando. E quer saber? Eu já fui amado. Muito amado mesmo, amado loucamente, bem do jeito que eu queria. E a angústia não passou também. O fato, moça, é que não tem nada de errado em estar me protegendo um pouquinho. Eu peso 58 quilos. Na verdade, 56, porque emagreci desde que comecei a trabalhar em pé feito um tresloucado (motivo, aliás, para eu estar aqui, querendo dar um jeito nessa droga de coluna). 56 quilogramas. Não é como se eu tivesse uma grande barreira me protegendo do mundo. Sou só eu, um monte de ossos e pele e um punhado de carne que sente coisa pra caralho e nenhuma defesa. Então me faça o favor de deixar esse meridiano bloqueado do jeito que tá. Porque já fui bipolar o bastante para saber que mereço alguma constância. Nem que seja anestesiado. Sentir cansa."

Só que não falei nada, é claro. Só ri enquanto ela pressionava devagar meu tórax para baixo. E engoli o choro quando ela me disse para soltar o ar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

VENHA VER


Texto publicado no blog do movimento Arte em Andamento que reúne e fomenta o diálogo entre artistas de todos os tipos em saraus no Rio de Janeiro.


O jornalista amapense Ronan Nascimento vive em Brasília e dia desses redescobriu a cidade. A redescoberta deu origem a um artigo escrito especialmente para nosso blog.



Sobre Brasília, Clarice Lispector certa vez escreveu que era uma cidade na beira do abismo. Saindo demais de seus limites, a pessoa cairia pelas beiradas. Quando ouve isso, Janaína Miranda, fotógrafa e artista plástica, tem um sobressalto e aponta para Humberto. Ele vive dizendo isso!. Humberto Lemos, também fotógrafo, é carioca recém-chegado em Brasília há dez anos. É uma constante que pessoas vindas do Rio ou de São Paulo reclamem da falta do que fazer no Distrito Federal. A própria Clarice escreveu sobre a solidão opressiva das ruas, digo a ele.


Acho isso ofensivo, defende-se a moça, Morei aqui a vida toda e não sinto esse marasmo. Mas Humberto conta que ao chegar odiou a cidade com todas as forças. É muito nova. Tem outro ritmo. Você precisa descobri-la seguindo caminhos escondidos. Humberto foi o idealizador do Fotoclube508, onde Janaína é aluna e professora. Uma comunidade de fotógrafos que há cinco anos faz pesquisas da linguagem fotográfica e projetos de inclusão visual.

O número 508 faz referência à quadra em que o grupo começou a dar aulas, no Espaço Renato Russo. Outra peculiaridade local: As ruas não têm nomes para se localizar. Apenas letras e números. CRS 508 significa Comércio Residencial Sul 508. Cartografia militar que visa simplificar, mas confunde visitantes. O excesso de praticidade deixa pouco espaço para a poesia, reclamam recém-chegados. Como criar laços com uma rua chamada “W3”?


Mas, então, algo acontece. Uma biblioteca pública com jardim interno escondida na 308 Sul. Idéia esquecida de Lúcio Costa para as quadras fechadas. Velhinhos praticando Tai Chi Chuan nos imensos gramados da 104 Norte. As árvores retorcidas pelo solo desértico formando corredores de folhas caindo entre os blocos. Ipês explodindo amarelo ou rosa onde deveriam haver esquinas. E a luz. Uma luz que parece mais vagarosa do que em outras cidades, embora venha do mesmo sol.


Talvez essa calma, essa lentidão, seja uma impressão que a luz deixa, explica a professora. É como se Brasília fosse planejada para aproveitar o máximo de iluminação, do primeiro até o último fiozinho de sol no horizonte. “Mas ela é”, interrompe Humberto, O plano piloto foi construído para ter prédios pequenos, com pilotis por onde as pessoas podem passar. E a luz, do meio do planalto central, também passa.


É fácil não prestar atenção. Uma das maiores dificuldades de Janaína é mostrar aos alunos como perceber a luz. Cada hora do dia, ensinam os fotógrafos, revela outro mundo. Profundo e sensual pela manhã, chapado e com sombras sólidas ao meio-dia. Com uma lua gigantesca, indecente, sozinha num céu limpo às nove da noite, descreve Humberto. O que se ganha em Brasília é tempo, reflete Janaína. Tempo para ver.


Fotos: Janaína Miranda (principal), Humberto Lemos (corpo do texto)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Enlouqueça, mas permaneça

Hoje acordei e tinha um e-mail da minha amiga Maíra, que não vejo há tempos que bastam, me sugerindo esse texto aqui. É um depoimento do Irlam Rocha, do Correio Braziliense sobre o Cazuza, "o garoto que não gostava de guetos", como diz o Irlam. O e-mail da Mah era assim:


"sei lá
quando li esse depoimento do irlam, pensei em vc
te acho meio rebelde, meio livre, meio curioso, meio chocante
meio (ou inteiro, melhor dizendo) cazuza, esse cara foda, com ideias geniais que até hoje me faz arrepiar quando escuto as suas músicas
no seu caso, palavras

bejos

Maíra Brito"

Foi um e-mail bom de começar o dia. Não é a primeira vez que alguém me associa à imagem-modelo do exagerado. Daí resolvi publicar aqui uma parte do e-mail que mandei de volta:

"Mah,

O Cazuza parece que abriu alas para uma geração de garotos como eu. Esses meninos magricelas, cheios de grito e de vontade, inclusive a vontade por outros meninos. Mas, particularmente, ele sempre mexou muito comigo. Quando eu era criança, lá no Amapá, lembro de passar uma tarde de sábado com a minha mãe me ensinando a cantar as músicas dele. Eu nunca tinha visto uma imagem sequer da figura, mas senti esse arrepio que a gente sente com as letras. Acho que a gente sente isso com tudo que é muito honesto, muito verdadeiro.

Mais tarde, quando eu tinha treze anos, minha irmã teve um sonho louco que até hoje me intriga, sonhou comigo num hospital, morrendo do mesmo jeito que ele. Não sei se o sonho veio da mesma comparação que você fez, se era um terror que rondava a imagem que ela tinha dos homossexuais ou se aquele era um futuro possível. Prefiro pensar na primeira opção. Acho que o Cazuza fez algo mais por nós, essa geração de meninos magros. Ele nos contou, antes que pudéssemos experimentar, que somos mortais. Que esse grito precisa de dose, que pode ter mais um dia para nascer feliz.

Acho que somos todos uma reencarnação dele, às vezes. Andando por aí com nosso grito à tiracolo. Vivendo na ponta do coração."

Sempre que escuto alguém falando "Quero viver minha juventude" ou algo do tipo, penso: Bom, fique à vontade, mas eu quero viver minha vida toda. E quero que ela seja ótima. Deve ser um otimismo ingênuo e piegas, mas já que esse é o meu Show, então faz parte.

Para finalizar, a tréplica da Maíra: "A morte do Cazuza deixou o recado: enlouqueça, mas permaneça". E é isso mesmo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Não aceito Jabás

Outro dia estava relembrando com uma prima um episódio da infância. Num famigerado natal, a família reunida, primos de outros primos, aquela farofa toda. Um menino com quem eu não me dava muito trouxera um brinquedo novo, causando alvoroço e frisson na meninada. Ele era a esse tempo um caçula um pouco apagado, me contou minha prima, ofuscado pelas atenções que a irmã mais velha recebia sempre. Era o momento dele de brilhar. O brinquedo era alguma coisa robótica que devia disparar raios gama e fabricar sorvetes enquanto se transformava numa espaçonave. Enfim, muito legal. E todos aguardavam sua vez para mexer na geringonça, até que surgiu o assunto polêmico. Bom, não era bem uma polêmica. O menino, dono do transformer ou sei-lá-o-quê, só estava comentando como Papai Noel tinha deixado a coisa ao pé da sua cama. Não era uma polêmica, até eu começar a polemizar a situação.


Antes mesmo deu explicitar meus argumentos sobre como a Coca-Cola havia inventado o velhote para tirar uma grana dos bobocas no natal (teoria muito popular no colégio público já nessa época e o pobre do menino era de escola particular); enquanto eu contava como minha mãe achava absurdo trabalhar para comprar meu presente e um ser barrigudo do pólo norte levar os créditos entrando por uma chaminé inexistente (nós éramos do Amapá, pelo amor de deus), fui, é claro, proibido de sequer chegar perto do treco luminoso. A menos que, e aqui é possível perceber o sadismo das crianças, estivesse disposto a rever meus conceitos.


Não guardo nenhuma imagem do que era aquela porcaria. Mas aprendi uma lição importante: prefiro defender meu ponto de vista a brincar com o pirocóptero alheio. Claro que esse posicionamento definiu bem minha popularidade entre primos e colegas na escola (0%).

A guarda

Pouquíssimas pessoas entendem o que é consolar. Não tem a ver com lições de moral ou mensagens como “Seja forte”. Tem a ver com repartir a dor para a tristeza acabar mais cedo. Tem a ver com enxergar o valor daquela dor. Quem consola não deve dizer ou insinuar que quem sofre é fraco por se deixar sofrer. Quem consola deve ver ali um herói, por mergulhar nessa tristeza até alcançar o fundo, e estender a mão para quando o outro quiser emergir, apenas esperando que não ele não se afogue. Consolar exige muita paciência. E humildade.



Enxergou-a de longe, como um borrão vermelho e laranja naquela luz. Desviou das poças d’água pelo caminho e das partes mais lamacentas do chão, brilhante, refletindo a lua. Quando começou a subir a encosta, sem poder evitar o barulho do granito rolando abaixo dos seus pés, ele já estava pronto para rendê-la em seu posto. Terminou de subir e pôs o xale dela de volta no ombro, deixando a mão se demorar um pouco mais, para dizer a ela o que queria dizer. Ela entendeu.


E começou a descer devagar, logo depois de ter enterrado o nariz na dobra do pescoço dele. Com cuidado, foi fazendo o caminho para casa, do mesmo jeito que ele o fez até ali. Acompanhou-a com os olhos e então voltou a olhar o horizonte, assim que ela fechou a porta. Preparou-se para passar as próximas horas ali, vigiando o vazio. Em guarda do luto.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Tragédia

A tragédia envolve os que estão próximos numa outra consciência. A morte, por si só, nos conta que somos mortais. Mas a tragédia nos assusta com a possibilidade de estarmos a sós. Talvez não haja Deus. A quem se destinam, então, todas as preces, os pedidos, as negociatas e súplicas. Quem acalenta depois que se vão embora as lágrimas, quem escuta os gritos de dor no escuro, quem se compadece e quem se constrange. Se uma pergunta não tem resposta, ela é uma pergunta?

A resposta é a razão de ser da pergunta? Nós somos a pergunta de Deus? Somos a parte de Deus que indaga?






Acorda o Inominável no vazio infinito ( sendo ele próprio o vazio infinito ), antes de sequer inventar o sonho. Não se ergue porque nada o sustenta além dele mesmo. E pela primeira vez em uma eternidade experimenta algo novo, um jeito outro, uma entonação:


- Existo?


Foi o primeiro verbo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A verdadeira última questão



Existem algumas coisas simples na vida e o segredo é se ater a elas. Mas também existem as coisas extraordinárias. E entre essas duas categorias existem ainda aquelas que não se deixam definir. Como, por exemplo, o twitter do Brent Corrigan. Acho que entre todas as felicidades efêmeras que as mídias sociais nos trazem ao longo do dia, poder acompanhar , entre citações de Einstein e Paulo Coelho, os dilemas de um astro pornô gay certamente está no Top 5.

Vide meu favorito, do dia 8 de junho:

"One final question. Infinitely more pressing: Where the hell do gay porn stars go to find quality friends that don't want to sodomize them?"


Porque essa É a última questão de todos nós. E eu me sinto genuínamente feliz de que haja alguém no mundo para fazê-la em voz alta por mim.


Brent, a voz de uma nação

Disfarçando o desequilíbrio

Para Karina

- Como você se motiva a trabalhar tanto?
- Penso na minha vida amorosa. É sério. Depois de um tempo, fica automático. Eu penso: Ok, posso não conseguir controlar meus ciúmes, mas consigo dominar meu sono e editar essas fitas. Ou então, posso não entender como uma pessoa que diz me amar prefere ficar no msn à noite toda à dormir comigo, mas entendo o que são títulos de capitalização e Taxa Selic. Posso ser incapaz de manter uma conversa sem brigar, mas sou perfeitamente agradável à noite toda com as fontes, se precisar. Posso não ser o suficiente para ele, mas ninguém vai escrever essa reportagem melhor do que eu. No fim das contas, alta competência é um excelente disfarce para o desequilíbrio emocional.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Confissões de um homem magro




Tem um ponto quando você começa a ganhar músculos que, dizem. é difícil de ultrassar. Você chega até esse ponto e, de repente, o que parecia uma feliz subida ao halterofilismo se torna uma escalada quase impossível ao himalaia. Um ponto de quebra, ou algo assim, entre o você que você é e o você que vai começar a se tornar se forçar um pouco mais.

Emocionalmente falando, eu estou bem nesse ponto.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Procura

Por onde você tem andado que não cruza comigo que ando tanto?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Testemunha



- Mãe, eu nasci?

- Como é, menino?

- Eu nasci?

- Tá ficando doido?

- Eu não me lembro de ter nascido. Às vezes acho que só surgi, sempre fui assim. Mas lembro de ser criança, lembro de ser menor. E tem os sonhos. Mas não lembro de nascer.

- Pois eu lembro. Tinha uma cabeça enorme que quase me partiu no meio. Parecia um coco de tão dura, levou umas doze horas para sair de mim. Depois veio todo sujo, coberto de tudo o que você puder imaginar.

- Eu era muito pequeno?

- Não. Bom, claro que era, senão como ia sair de mim? Mas não era tão pequeno, era forte, tinha cabelos e ficava olhando. Não parecia que tinha acabado de nascer, mas era muito sensível, chorou muito.

- O mundo me assustou.

- Como você sabe? Acabou de dizer que não lembra.

- Presumo. O mundo me assusta até hoje, deve ter sido um primeiro impacto horrível, especialmente o barulho.

- Você sempre foi muito medroso.

- Medroso não, mãe. Sensível.

- Levou tanto tempo para aprender a dormir sozinho. Se metia na cama da sua irmã, na minha, da avó. Era uma guerra, eu tinha que mandar colocar fechadura nos quartos para você aprender a dormir só. Tinha medo do escuro.

- Lembra do armário velho?

- Que você escalava para passar pelo espaço entre as paredes e o teto e ir dormir na minha cama, quando a casa não tinha forro? Como que podia se arriscar a quebrar o pescoço só para não ficar no próprio quarto? Tinha medo do escuro, mas não tinha medo da altura, isso eu nunca entendi.

- Nada é mais assustador que a solidão, mãe.

- Mas você nunca ficou sozinho. Era só o quarto ao lado. Você via monstros, filho?

- Via.

- E deixou de ver?

- Não, eles viraram companhia. Agora só tenho medo quando querem muito me dizer alguma coisa que não quero ouvir. Monstros são terríveis quando precisam chamar atenção.

- Você não existe, filho.

- Claro que existo, você confirmou que até nasci. Mãe, você não pode morrer.

- Que é isso agora?

- Se você morrer, eu nunca vou ter nascido. Fico sem confirmação.

- Que absurdo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Tela em Branco




Venho tentando escrever e não consigo. A primeira frase vem. Eu imagino meu tema, penso em como o texto precisa ficar, digito algo que a fonte disse e que vai servir de título e então, pronto, travo. Eu releio o que escrevi e nada mais acontece. Preencher essa página em branco parece completamente distante. Uma vida completa de distância. Por que é sempre assim comigo? Por que às vezes uma clareza absurda, como se minha voz fosse o som mais natural do mundo fluindo por um caminho de metáforas, se tantas outras é essa seca de idéias, esse abismo; como se nunca tivesse feito isso. Rejeito tudo o que escrevo. Acho banal, clichê, melodramático e sem talento.

Detesto a palavra “talento”. Parece uma condenação. Ou tem ou não. Mas não mais do que a palavra “inspiração”. Por que não pode ser como pagar uma conta no banco? Apenas levante-se e faça. Os textos jornalísticos costumavam ser assim. Uma fórmula simples, calculada: Responda cinco perguntas. Escolha o mais importante. A primeira frase tem que pedir mais uma informação da segunda e feche o período. Abra e feche.

É quase cirúrgico. O mais importante é saber o que se deixa de fora. Então inventaram esse tal de jornalismo literário e toda a segurança foi por água abaixo. Agora é uma questão de criação, de sensibilidade. É muito difícil fazer algo contra a vontade se muito do seu eu tem de estar presente na coisa. Mas por que eu não quero? Sempre foi o jornalismo literário, sempre foi. Sempre foi sentir as coisas, contar histórias e se deslumbrar. Sempre foi dar vazão a esse caminhão desgovernado que sou por dentro.

É tão frustrante não escrever, é como se eu fosse um guerreiro que não batalha, um médico que não cura. Li o que preciso, sei o que preciso. Então escreva! Pelo amor de deus, não deve ser tão difícil assim, nem é tão especial assim, é só colocar uma palavra atrás da outra, você não precisa ser o próximo Dostoyévski, seu pretensioso! Você mal tem coragem de soletrar Dostoyévski sem checar no Google. Seja coerente.

Só preencha sua página. Foi o conselho que você recebeu, Ronan: Preencha o espaço em branco.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Crescido




7h 30 – Acordar, tomar café, banho
8h15 – Editar Telejornal
9h40 – Marcar entrevistas
10h – Escrever texto do jornal

12h – Almoçar
13h – Ir para o trabalho, pegar o carro, superar o medo do último acidente
14h – Consolar Beatriz*, que vai ligar
15h – Empacotar, despachar, telefonar, carimbar, ouvir bronca do RH por causa dos atrasos
16h35 – Tomar um café, desmarcar dentista de amanhã (Não vai dar tempo, mesmo)
17h – Ler jornais na internet
18h – Preparar pautas
19h – Começar qualquer tarefa absurda que a chefia mandou no último minuto do expediente e que provavelmente vai tomar umas 2h

21h – Ir pra casa, se perguntando pra quando remarcar a aula de inglês perdida
21h30 – Ser feliz, quase esquecera
22h45 – Ler algum livro e dormir

terça-feira, 18 de maio de 2010

Bandeira vermelha

Digam o que quiserem os ideocratas, nada é mais revolucionário que o tesão.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Denunciando Dolores Duran


Vai ver que na verdade os melhores compositores eram simplesmente os mais vingativos.

Imagina só:
Você faz uma música de amor sofrido para quem não te quis. Ela faz um sucesso estrondoso.E o pobre coitado, cujo único crime foi não corresponder as suas aspirações amorosas, tinha que ouvir aquilo por anos a fio. Em todas as rádios. Se bobear, até no elevador.

O ato de fugir da DR devia ser elevado a um patamar desesperador.

Você tinha isso em mente, Dolores. Confesse.


segunda-feira, 22 de março de 2010

Microconto - Resignação

"Eram três, reunidos como de hábito numa mesa de bar. Estavam as duas conversando ainda razoalvemente animadas, ele mesmo já havia parado de falar há algum tempo. Embora falassem dele. As sentenças vinham de uma e voltavam para outra; tentavam fazê-lo voltar à conversa, provavelmente sem saber como lidar com aquele silêncio inusitado. Tão estranho.
- Mas... Foi uma história muito bonita, não foi? Quer dizer, a história de vocês dois, por mais que seja difícil e dolorida, é uma história de amor tão bonita... - uma delas tentou salvar.
- Não.
- Não?
- Não. Foi só uma história triste. Tristeza não é beleza. Tristeza é só triste."

quarta-feira, 17 de março de 2010

"Diga a verdade, diga a verdade, diga a verdade"

Se você diz cada vez menos, com o tempo acaba esquecendo como dizer. Esquece que palavra acompanha outra melhor. Esquece como soltar o ar entre os dentes. Esquece até o que tem a dizer. Esquecer é um refúgio bom, é seguro e limpo. Só que ninguém consegue segurar uma fala por muito tempo. Mesmo que seja o tempo de uma vida. Quem se cala uma vida inteira, volta na próxima falando aramaico. Mas fala.

Uma vez vi um homem explodir porque não tinha mais espaço para todas as palavras que engolia.

O segredo não é falar muito. O segredo é falar tudo. E o segredo é falar sempre. A verdade é Deus. Falar a verdade é rezar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Da série: Diálogos improváveis com uma mãe nada provável


- Meu filho, por que esse mau humor todo? Olha que sol lindo, que céu maravilhoso, que vida plena. Me diz um motivo pra você estar com essa cara. UM.

- Intolerância à lactose na páscoa.

- ...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Microconto - Refúgios corporativos


O copeiro do meu trabalho sorri toda vez que me trás mais uma xícara de café. E eu sorrio toda vez que ele trás mais uma xícara de café. Nós nem sabemos o nome um do outro. Mas ele trás meu café, porque acha que eu gosto muito de café e eu bebo meu café, porque acho que ele gosta muito de me trazer o café. Nesse momento é quase como se gostássemos um do outro também. E essa às vezes é a relação mais estável que eu tenho.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Heróis silenciosos


É meio vergonhoso dizer, mas levo à sério essas teorias de auto-ajuda que dizem que você deve viver sua vida como se fosse o herói da própria história. Não que todo mundo precise sair por aí catando arquiinimigos imaginários em cada desafeto. Ou construindo relacionamentos como quem cria roteiros cinematográficos, só para movimentar a vida. Não. Quero dizer que é bonito quando alguém decide, de verdade, não ficar deitado nos trilhos, esperando para descobrir sua eficácia como quebra-molas de trem.

A gente não costuma olhar quando as pessoas fazem isso de se levantar dos trilhos. Pelo motivo óbvio: O pobre coitado que vai virar patê de gente gritando: "Socorro! Estou amarrado!", enquanto o desastre colossal corre furiosamente em sua direção é mais dramático. Ligeiramente. Vítimas seguram o público até o final. Já o sujeito que se dá conta de não estar preso em corda nenhuma é só um susto. No máximo vai ser chamado de idiota.

Esse é o motivo óbvio. O motivo não-óbvio é que a decisão de se salvar costuma ser silenciosa. Ela não precisa de plateia, porque finda em si mesma. Você se cuida para estar a salvo. Come salada para ser saudável, pratica exercícios para se sentir bem, dirige devagar para chegar à salvo. Não faz isso para ser aplaudido, para chamar atenção. Faz isso porque em algum momento decidiu que merece umas coisas legais, que pode se dar algumas coisas legais, afinal. E teoricamente essa é a ordem natural: não há nada de especial em NÃO querer virar um patê de gente. Mas, na verdade, há sim. Porque apesar do natural ser desejar ser feliz, é mais fácil não ser.

Se sentir amarrado na frente do trem é uma situação limite. Tem outras formas de virar patê, menos barulhentas e muito mais demoradas. Como aquelas pequenas torturas diárias que costumam envolver doses colossais de insegurança e desconfiança dos outros. As escapadelas, o descompromisso, as mentiras e todas, absolutamente todas as neuroses arquitetadas para se projetarem em 3D na mente. E embora esses vícios sejam dolorosos, eles são as rotas sinalizadas com plaquinhas em neon. São caminhos movimentados e bem conhecidos. Todo mundo vai por ali.

Por isso há algo de muito especial quando alguém decide fazer uma coisa nova da vida. Algo que não envolva se bater e peneirar a cada oportunidade. Não ser a mocinha abandonada ou o derrotista que não espera nada melhor do mundo. Em primeiro lugar, porque é essa atitude que evita cordas, trilhos e trens desgovernados. E afinal porque é o tipo de decisão que se toma sozinho e ninguém sabe dizer muito bem o que acontece depois. Quem sabe, não faz alarde.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sentido de permanência e romantismo


Dos livros que já li, Isabel Allende não é a melhor escritora. Nem é a mais madura nas reflexões que faz, nem a mais poética na linguagem que usa. Mas é a que mais fala comigo. Alguns escritores simplesmente falam a mesma lingua que você, como alguns amigos. É como se eles se interessassem pelos mesmos assuntos ou escrevessem bem aquela frase que você disse outro dia quando estava distraído. Voltando na estrada de uma cidade-satélite pro trabalho, eu lembrei de um diálogo entre a empregada da protagonista e o mocinho em "De amor e de Sombras".

A história é uma trama novelesca que se passa num cenário-espelho do que era o Chile tomado pelos militares, na ditadura do Pinochet. Irene é uma jornalista alienada e corajosa como só os ingênuos são. Ela escreve para uma revista feminina e acaba se apaixonando pelo colega fotógrafo, Francisco, um psicólogo impedido de trabalhar pelo regime, que encontra no fotojornalismo uma forma de sustentar a família e clandestinamente ajudar os perseguidos políticos a escaparem do país.

Em dado momento, fica claro que eles ficarão juntos independente dos riscos a que ela estará sujeita ou das diferenças entre as visões de mundo dos dois ( que francamente nem são tão nítidas assim, não sei se por falta de uma caracterização melhor das personagens ou se porque, criada no porcelanato da classe-média e acostumada a olhar com ligeireza jornalística, Irene só carece de alguma profundidade para se revelar parecida com o companheiro). Então a mulher que criou a repórter resolve advertir Francisco do barco em que está se metendo, dizendo algo como:

"- Ela é como uma borboleta, você sabe. Não tem nenhum sentido de permanência..."
Ao que Francisco responde sem hesitar:
"- Não se preocupe. Tenho o suficiente por nós dois."

Sabe, eu amo Francisco por dizer isso. Talvez por já estar, nesse momento, tão envolvido com a história que o entendo. E porque eu seja tantas vezes como Irene e perca meu sentido de permanência até que alguém me lembre do que é importante. Mas o fato é que está errado. E esse é o problema com o romantismo. É tão bonito de se admirar que você acaba esquecendo que não faz o menor sentido. Pode até ser estúpido, se pensar bem. O realismo, por sua vez, tem uma preocupação menos estética. É mais simples, não gera tantos suspiros e muitas vezes nem precisa de tantas palavras. Podia ser resumido assim:

" - Não tem sentido de permanência que dê para dois. Cada um fica por si. Beijo, Irene"


Mas quem vai fazer uma novela disso, né?



- Vaza, filhote. Essa aí é chave de cadeia

Tenho absoluta certeza de que vou me perguntar se devia mesmo fazer isso

Como meta pós-carnaval 2010 ( afinal, sejamos honestos, essa história do ano começar em Janeiro nunca fez sentido nesse país ) reduzi meus dilemas a questões mais práticas. Resolvi economizar em indecisão focalizando tudo na seguinte questão:
Qual vai ser o nome do meu blog?

Assim, já não interessava com que roupa eu saíria de casa. Não tive problemas pra decidir os programas no fim de semana, quais filmes queria ver e que livros terminaria primeiro. Tudo o que importava era "escolher um nome bom, um nome que pegue e faça algum sentido". Bom, na minha mente megalomaníaca ele também vira título de livro e me faz famoso e rico, mas eu vou me contentar se conseguir uns 20 acessos por dia (mudei o número três vezes).

As questões importantes também perderam seu peso. Pouco importavam os dramas amorosos, as amizades conturbadas, os delírios psicóticos de plantão. O importante era o nome do meu futuro blog. Acho que essa deve ser a vantagem de ter TOC. Você dá tanta importância para uma coisa tão sem sentido, que não sobra muito pra dividir entre as outras coisas que mereceriam atenção se você fosse ( perdão mas nem tô ligando pro politicamente correto ) normal.

Descobri que, até para um geminiano com ascendente em libra, existe um limite de indecisão na vida. É tipo uma carta de crédito. E eu estourei a minha. Até o mês passado, não me deixei opção além de ser uma pessoa completamente firme e resoluta em tudo que não envolvesse as terminações "blogspot" ou "wordpress".

Agora já posso voltar ao meu estado natural. "Meninos que brincavam com fósforos", soa perfeito. Não sei bem o porquê, mas soa.