terça-feira, 25 de setembro de 2012

Meninos que brincam com fósforos


Há de se lembrar que há fósforos e fósforos,
bem como há meninos e meninos.

Há os meninos que,
brincando com fósforos,
correm risco de pôr fogo
na casa

E há meninos que
brincando com fósforos
correm com o risco
de incendiar a alma.

Mas, como andam juntos,
muitas vezes se confundem

domingo, 23 de setembro de 2012

(Recalque) Essa porra no chão




Aqui está quando você chega
Meu colo, colcha, o cinzeiro
Os furos no sofá já nem me importo
Mas fuma na janela hoje

Aqui estou quando você chega
Casa, abrigo, mapas
O tabuleiro bem guardado
Eu tiro as peças, atira os dados

Meu útero, teu silêncio

Aqui estamos quando você chega
Estranhos, errados, sem cabimento
O quarto não te conhece mais
Leva as fotos e anota meu número
novo

Aqui estou e você não veio
Eu ainda estou e você não veio
Eu falei para não vir e você não veio
Eu tinha ainda muito para te dizer
Mas esqueci.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Blanchot


Tudo aquilo que foi o escritor para o livro; que o livro exigiu do escritor; cada lágrima e gota de angústia; as horas; o sofrimento da escrita; o terror de nunca terminar; o terror de terminar; o amor e o tédio que levaram o autor a escrever; tudo isso é dado para que o leitor do livro faça apenas uma coisa: apague. O leitor não precisa saber. Mesmo que saiba, isso não importa para o livro. Para que a obra exista, o escritor deixa de existir. O escritor escreve para que o leitor apague o escritor.

domingo, 16 de setembro de 2012

Qualquer hora dessas se projeta do quinto andar

Violentas fugas e incongruências
O humor oscilava nu pela casa
correndo da cozinha à janela, num baque
sala ao quarto, pelo a pelo, surdo

O pênis balanço pendular
ora teso angustiado de abrigo
ora adormecido para sempre
Enjoado da vida da vida gasta nos poros

Inclinava-se na janela da sala
todo ele uma linha, bailarino
Pássaro enjaulado em si mesmo
provocando riso dos pasmos

Perguntava-lhe - O que foi, amor?
Respondia "vou passar."