terça-feira, 8 de março de 2011

Ode ao bobo, o sentimento Vinícius

“Você sabe o que é o amor? Não sabe. Eu sei. Sabe o que é um trovador? Não sabe. Eu sei”

Ando aficionado pelo sentimento Vinicius. Não é pela pessoa do poeta, nem pela sua história, embora tudo isso influencie. Estou aficionado pelo sentimento das palavras e do jeito desse homem de escrever. Houve um tempo em que eu me acharia bobo; estupidificado por versinhos simples e nacionalistas. Cantando temas de novela pelos cantos. Rindo uma risada meio trôpega nas conversas com amigos, vítima de uma boemia clássica e ultrapassada. Mas hoje fico com vontade de escrever um Ode à bobagem. Um Ode ao Bobo. Poesia tem sido um processo. Sou da teoria de que não se aprende a ler poesia como qualquer outro texto. Harold Bloom, um crítico norte-americano, diz que poesia precisa ser lida em voz alta, porque parte do entender poesia vem de conseguir sentir a musicalidade das palavras. Com Vinicius não poderia fazer mais sentido.

Existe uma tristeza no poetinha que não anula a vida. É uma resignação - como diz José Castello na biografia O poeta da paixão -, mas é se resignar à tristeza que faz parte da felicidade. Não impede a felicidade de acontecer. Essa é a mensagem dos orixás em seus afro-sambas de 1962. Amor e dor, dizem os deuses negros, é preciso sentir ambos. É também psicanálise em forma de música. Eros e Tanatos, desejo e morte, as duas forças que precisam estar em oposição para que a vida aconteça.

E o Vinicius de Moraes veio ensinar uma coisa muito importante. Ele veio nos contar que as bobagens - o ridículo - essa linha tênue entre o discurso de amor e o clichê, o bobo, é uma coisa muito séria. Que rimar peixinhos e beijinhos vem de uma melancolia verdadeira e profunda. E, na poesia dele, essa melancolia não é restrita aos inteligentes, aos cultos e elitizados do pensamento. Ele nos diz que só quem conhece a melancolia do desencontro, da solidão e do perdido é que sabe se apaixonar. Assim como só quem tem saudades de casa é que faz uma pátria. Mas esse conhecimento nada tem a ver com o grau de instrução de uma pessoa. Esse conhecimento é dado a quem se permite viver. A paixão tem a ver com estar vivo. Sofrer tem a ver com estar vivo. O Vinícius, falando de amor em Itapoã, veio nos contar que a tristeza não é privilégio dos ricos. Portanto, o amor também não é. O que acho mais bonito é pensar que o "se apaixonar" não é talento inato ou fado divino. É uma habilidade. Uma aprendizagem.

Um comentário:

Ana Paula Amorim disse...

Querido,
Queria saber combinar as palavras e escrever tão belamente o que se sente.
Como faço para sugar um pouco deste talento?
Será que é que nem sangue, sempre que se doa, se renova e fortifica?
beijo e siga sempre tecendo belas frases em belos textos!!!
(adorei o Gabo)