O que movimenta um fotógrafo? Todos os fotógrafos profissionais que conheci pareciam se mover para a fotografia a partir de certa instabilidade comum. Um tipo de sede por algo que não é propriamente a imagem construída a partir de seus olhares, mas algo que ela quase revela. E a tensão entre esse “quase” e a foto em si é o que parecia lhes impelir para a próxima. Um pendular entre a satisfação e o desprazer. Como um viciado, como muitos se classificaram mais de uma vez.
Começo a entender porque algumas imagens merecem registro. A suavidade da pele num tecido fino; o início de um sorriso, pouco antes de virar sorriso de fato; o céu de Brasília entre os galhos retorcidos de um ipê. Brevidades. Mas algo se sublima nessa paixão. Fotografar é como o amor. Será que a tentativa de eternizar um momento é amar? Os amantes sempre querem que o amor seja pra sempre, que o prazer seja desfrutado eternamente... Fotografar e amar são lutas contra a morte? Amar é um não querer morrer? Fotografar é não querer morrer?
E essa luta injusta contra o tempo, contra a factualidade do inevitável não é legítima? Não é legítimo que nos recusemos a aceitar os términos (de relações, de estágios da vida, de estações do ano) como inevitáveis da mesma forma como não aceitamos que iremos morrer? Que nos rebelemos, com infantilidade ou sofisticação, contra os termos da existência? Será que o amor pode existir sem, pelo menos, se pretender eterno?
Ou talvez não seja nada disso. E a não-aceitação do fim nada tenha a ver com o desejo por fotografar e por amor.
Pode ser que o ato de fotografar não seja mais do que um desfrute. Tirar alguma beleza da existência. Sem tirar a brevidade. E pode ser o próprio amor possa se transformar em algo assim. Não mais uma batalha contra o fim. Mas uma viagem muito bem aproveitada. E a morte não é uma derrota. É só um fim. Quero uma câmera.
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