Freud, Lacan, Guimarães Rosa,
Derrida.
Paulatinamente avança.
Passo a passo,
vislumbra alcança
tropeça
Topa tateia enxerga
Passo a passo, adentra. Entende. Brilha!
Afora, perde.
Pira.
Retoma resume reúne
retira, relata, resiste, reporta
humildemente recorta.
Se ressente covarde, reduz
Levanta.
Revê.
Não dá conta de tudo.
Do começo, (lê) mais uma vez
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Barthes
Para Aisha
Quando me apaixono, temo que meu Amor me devore. Então me afasto. Corro do outro. A menos que seu Amor seja feroz como o meu. Um Amor pode devorar outro Amor. Imobilizam-se. Acalmam-se. Se ao outro incomodam as quedas d'água, ele nada pode. É tão frágil que parece firme e forte. Tão frágil quanto a indiferença. A fragilidade do amor é um despreparo. Está sempre desprevenido, pego de surpresa pela intensidade inesperada. O Eu te amo é uma surpresa para o amor frágil. Já a saudade incontida é um grito de sufoco. O Amor está como quem aguarda. Se extasia. Mas já esperava. Sua fera espreitava o tempo da fera do outro.
Te faço homem e mulher no que tenho de mais louco. Te faço meu sintoma de loucura. És o objeto amoroso que me denuncia. Quando nos apaixonamos, só o que iguala nossa intensidade é que a sacia. O amor do outro, tão grave quanto o meu, me aplaca. Como me aplaca a queda d'água, a tristeza do fado, o mar. Quem não se apaixona em gravidade chama o rugido furioso do mar de barulho, não aceita ser do outro sua denuncia. Quando descubro o que me fascina no outro, já não o amo. Porque descobrir não é achar. O que se descobre é ponto final, que fecha numa forma fixa o que antes era só pontilhado.
O Amor sempre termina em tragédia ou tédio. Mas, às vezes, renasce. E é preciso acreditar no seu renascer, embora sua travessia seja imprevisível, embora algum preparo para o fim seja imprescindível. O Amor não aceita fragmentar-se; terminar sem acabar. Porque mataria sua essência de fera. E não poderia nunca mais renascer.
A cena é a seguinte: Ela se sentava sempre na beira do banco, para ouvir o Amor. Sentava com as pernas entrecruzadas, os joelhos perto do queixo, as mãos segurando os dedinhos dos pés. Sentava em pouso. Daquele banco podia saltar a qualquer momento. Nesse caso, alçaria vôo pela janela, tinha pernas longas e saltava alto. Poderia também levantar-se direto para um passo de dança, onde se reuniria em alegria na companhia da amada. Mas gostava especialmente de ficar ali sentada, para ver a outra dançar.
Quando me apaixono, temo que meu Amor me devore. Então me afasto. Corro do outro. A menos que seu Amor seja feroz como o meu. Um Amor pode devorar outro Amor. Imobilizam-se. Acalmam-se. Se ao outro incomodam as quedas d'água, ele nada pode. É tão frágil que parece firme e forte. Tão frágil quanto a indiferença. A fragilidade do amor é um despreparo. Está sempre desprevenido, pego de surpresa pela intensidade inesperada. O Eu te amo é uma surpresa para o amor frágil. Já a saudade incontida é um grito de sufoco. O Amor está como quem aguarda. Se extasia. Mas já esperava. Sua fera espreitava o tempo da fera do outro.
Te faço homem e mulher no que tenho de mais louco. Te faço meu sintoma de loucura. És o objeto amoroso que me denuncia. Quando nos apaixonamos, só o que iguala nossa intensidade é que a sacia. O amor do outro, tão grave quanto o meu, me aplaca. Como me aplaca a queda d'água, a tristeza do fado, o mar. Quem não se apaixona em gravidade chama o rugido furioso do mar de barulho, não aceita ser do outro sua denuncia. Quando descubro o que me fascina no outro, já não o amo. Porque descobrir não é achar. O que se descobre é ponto final, que fecha numa forma fixa o que antes era só pontilhado.
O Amor sempre termina em tragédia ou tédio. Mas, às vezes, renasce. E é preciso acreditar no seu renascer, embora sua travessia seja imprevisível, embora algum preparo para o fim seja imprescindível. O Amor não aceita fragmentar-se; terminar sem acabar. Porque mataria sua essência de fera. E não poderia nunca mais renascer.
A cena é a seguinte: Ela se sentava sempre na beira do banco, para ouvir o Amor. Sentava com as pernas entrecruzadas, os joelhos perto do queixo, as mãos segurando os dedinhos dos pés. Sentava em pouso. Daquele banco podia saltar a qualquer momento. Nesse caso, alçaria vôo pela janela, tinha pernas longas e saltava alto. Poderia também levantar-se direto para um passo de dança, onde se reuniria em alegria na companhia da amada. Mas gostava especialmente de ficar ali sentada, para ver a outra dançar.
Bordado
I
Isso que o
nome não diz
que nos afeta -
duvida da língua - diz dobrado
responde a mim –
esse sarcasmo
Apropria
esse gesto.
Três dedos sobre a boca. A
nenhum lugar que tenha ido
as palavras
estão.
Que é o que
nos afeta,
funda o passado
quando não disse
Olhares
perdidos
no cruzamento, escuta,
desfaz essa hierarquia violenta
que nos une no
silêncio
Fala. A
herança era dívida.
Teu direito uma obrigação.
Não te ajudaram, não te avisaram.
Conta.
Não sobrou.
Não tinha.
Não veio. Não chegou,
não anda, não solta, não foi.
Não disse.
Desdenha a
mensagem do pai.
Rejeita a origem, não olha no espelho.
Não envelhece. Nunca.
Corre, frui. Goza.
Agora
grita. Veste a angústia no grito.
Envolve o terror na seda do grito.
Enoda no
estômago,
desenlaça no grosso.
Engole.
Engasta.
Entope. Ensurda.
Não ama.
Corta.
II
Isso
que volta, titubeia de volta
quer um sentido qualquer
que nos diga
Mais
humilde, mais à moda da casa
Que quer dizer
Também não ama.
Vai e
retorna.
Diz pior. Melhora.
Já não grita
- quase.
não conta o
nome.
Finge que obedece, engatinha
troca a roupa toda.
Nenhuma serve.
III
Desde
já agora era.
É para trás que se avança.
Quando então.
Arte e Psicanálise
Esse vazio no peito
Não dá pra preencher
esse vazio,
não.
Mas dá pra bordear. Esse vazio
domingo, 4 de novembro de 2012
Senão - Blanchot II
Quando dizes assim:
Preciso te dizer essas palavras
senão...
O que vem a completar a sentença
é sujeito ao delírio pessoal que criastes
última centelha de identidade
que te restou, porque estás possuído
Como exemplo, podem-se listar
pelo menos quatro torturas
elementares
Se fores sujeito de água, digamos
Completas dizendo
Senão me afogo
Mas, se és do fogo,
Explode.
se fores do ar
sufoca
E de terra
aí com nada completas
porque há muito te enterrastes
e agora precisa de alguém que te salve
Nada disso é real,
é delírio, já o dissemos
Não te afogarás, explodirás, tampouco sufocarás
(embora seja possível que te enterres e se ninguém vier em teu auxílio estás perdido)
Nenhuma dessas torturas te acometerá
por palavras não-ditas.
Mas o teu destino será muito pior
Preciso te dizer essas palavras
senão não as terei dito.
Esse é o inconcebível,
o que apavora mais que morrer
porque equivale a não ter vivido:
Não dizer.
O terror dos mortos é serem esquecidos
por isso carregamos fantasmas
O dos vivos é morrer
por isso carregamos fantasmas
Mas o terror de não dizer
não é morto nem vivo
É terror do texto.
É texto o que assombra
- afoga, explode, sufoca, enterra -
É texto que invoca fantasmas
Sob pena de condená-los ao esquecimento
porque, no fim, medo, angústia, aflição,
são sintomas galopantes de texto.
Sem artigo, sem definição
interminável, solitário e...
Texto que inventa, ameaça
manipula,
desloca - condensa
deseja, que quer,
mais texto.
Ser dito.
Senão.
Preciso te dizer essas palavras
senão...
O que vem a completar a sentença
é sujeito ao delírio pessoal que criastes
última centelha de identidade
que te restou, porque estás possuído
Como exemplo, podem-se listar
pelo menos quatro torturas
elementares
Se fores sujeito de água, digamos
Completas dizendo
Senão me afogo
Mas, se és do fogo,
Explode.
se fores do ar
sufoca
E de terra
aí com nada completas
porque há muito te enterrastes
e agora precisa de alguém que te salve
Nada disso é real,
é delírio, já o dissemos
Não te afogarás, explodirás, tampouco sufocarás
(embora seja possível que te enterres e se ninguém vier em teu auxílio estás perdido)
Nenhuma dessas torturas te acometerá
por palavras não-ditas.
Mas o teu destino será muito pior
Preciso te dizer essas palavras
senão não as terei dito.
Esse é o inconcebível,
o que apavora mais que morrer
porque equivale a não ter vivido:
Não dizer.
O terror dos mortos é serem esquecidos
por isso carregamos fantasmas
O dos vivos é morrer
por isso carregamos fantasmas
Mas o terror de não dizer
não é morto nem vivo
É terror do texto.
É texto o que assombra
- afoga, explode, sufoca, enterra -
É texto que invoca fantasmas
Sob pena de condená-los ao esquecimento
porque, no fim, medo, angústia, aflição,
são sintomas galopantes de texto.
Sem artigo, sem definição
interminável, solitário e...
Texto que inventa, ameaça
manipula,
desloca - condensa
deseja, que quer,
mais texto.
Ser dito.
Senão.
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