Estou
de volta àquele cais. Estou de volta aos iates e veleiros, estou de volta ao
início da Bahia de Dorian, estou de volta à praia, ao mar, às reminiscências. O
tempo não passa na memória, mas as memórias passam, embora não as vejamos
passar. Não lembro de tudo. Não lembro do gosto dos lábios de J. naquele primeiro
beijo que ele me roubou, não lembro do que ele disse entre risos, não lembro da
minha negativa, não lembro do poema que recitei, não lembro do que lembrava na
hora, não lembro de lembrar de M., não lembro de não chorar, não lembro de
tudo. Este cais não é o cais de M. Este óleo das águas deste cais, estas velas,
não foram parte das expedições de M. M. desprezava minhas lembranças. M. que
possuía o mar e agora possui a selva de pedra, enquanto eu só possuía o
deserto. M e eu. J. entre nós. E o cais e o mar e o gelo.
domingo, 30 de junho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
Crônica da Pólvora VI
Os cabelos de M. eram um personagem à parte, uma
mítica extra-pessoal, um recurso poético que um crítico poderia analisar como
se fosse o próprio poema. Do cabelo de M. digamos apenas que era o traço a que
o comum se referiria depois de vê-lo na rua. Certa vez, um míope o entendeu
como convite, fumando na entrada de um bar qualquer, enquanto os amigos o
esperavam, não pôde não os convidar – os cabelos - para juntarem-se à roda.
Depois, M. tinha certeza, não lembrou de seu rosto, dos joelhos magros, da pele
alvíssima, lembrou apenas de seus cabelos. Fez amor com os cabelos de M. durante
uma semana. M. tinha certeza. Depositava-se de tal forma naqueles cachos
angelicais, que ainda sinto o revoar da cabeleira por meu pescoço agora que
olho sua fotografia. Sempre discordei dessa percepção tola, sempre achei seus
cabelos mero detalhe de sua personalidade. Mas há três anos não nos falamos.
Soube recentemente, por um amigo em comum, que raspou a cabeça.
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