Gabo,
O poeta é um menino. Eu mesmo só escrevia poesia quando era menino. Antes disso, roubava poesia de uns livrões pesados, antigos, da biblioteca da escolinha pública. Ia lá na biblioteca, pegava os livrões, copiava no caderno escondido. Porque, sem que ninguém me dissesse, eu esperava que fosse proibido isso de pegar aqueles livrões e copiar. Só olhar pra eles devia ser proibido, porque ficavam no alto e eu tinha sete anos e os meninos de sete anos não são para ficar mexendo em livros. Isso de ser proibido deixava mais bonito. Lia e ficava dizendo para mim, sem entender palavra. Ficava fascinado que as palavras tinham uma coisa de ser dita. Não sei mais explicar. Mas era fascinante pra mim que as linhas desenhadas eram palavras e que eu passava os olhos e saiam da minha boca feito som. Ficou um pouquinho desse fascínio em mim e é por isso que você, meu amigo, gosta tanto que eu te leia em voz alta. Me fascina ainda que as coisas bonitas saiam de gente que nem você e sejam lidas por gente que nem eu. Em voz alta, para dizer ao mundo, para espantar demônios, para ver se as linhas ganham forma ao redor da gente e escrevam nas pessoas o amor. Eu escrevia poesia quando menino também. Depois desmenineci. Escrevo outras coisas, escrevo isso, escrevo para você também. Mas não escrevo mais poesia. Só leio poesias e te falo para continuar sendo menino e escrever cada vez mais como menino. Não desmenineça, meu amigo. Não desmenineça, não.
O poeta é um menino. Eu mesmo só escrevia poesia quando era menino. Antes disso, roubava poesia de uns livrões pesados, antigos, da biblioteca da escolinha pública. Ia lá na biblioteca, pegava os livrões, copiava no caderno escondido. Porque, sem que ninguém me dissesse, eu esperava que fosse proibido isso de pegar aqueles livrões e copiar. Só olhar pra eles devia ser proibido, porque ficavam no alto e eu tinha sete anos e os meninos de sete anos não são para ficar mexendo em livros. Isso de ser proibido deixava mais bonito. Lia e ficava dizendo para mim, sem entender palavra. Ficava fascinado que as palavras tinham uma coisa de ser dita. Não sei mais explicar. Mas era fascinante pra mim que as linhas desenhadas eram palavras e que eu passava os olhos e saiam da minha boca feito som. Ficou um pouquinho desse fascínio em mim e é por isso que você, meu amigo, gosta tanto que eu te leia em voz alta. Me fascina ainda que as coisas bonitas saiam de gente que nem você e sejam lidas por gente que nem eu. Em voz alta, para dizer ao mundo, para espantar demônios, para ver se as linhas ganham forma ao redor da gente e escrevam nas pessoas o amor. Eu escrevia poesia quando menino também. Depois desmenineci. Escrevo outras coisas, escrevo isso, escrevo para você também. Mas não escrevo mais poesia. Só leio poesias e te falo para continuar sendo menino e escrever cada vez mais como menino. Não desmenineça, meu amigo. Não desmenineça, não.
Um comentário:
(Des)Menino! Que lindo teu blog e tuas palavras. Eu nunca escrevi poesia, mas eu tenho uma explicação para isso, baseada no seu texto. Quando eu era menino eu me preocupava demais e crescer, ser alguém maduro - e me julgava maduro. Assim, eu perdi minha meninez. De qualquer modo, isso me serviu para entender mais cedo algumas coisas da vida.
Parabéns pelo texto. E bom saber que quando as pessoas lêem poemas e textos em voz alta, elas querem "dizer ao mundo, para espantar demônios, para ver se as linhas ganham forma ao redor da gente e escrevam nas pessoas o amor." Que bom que você quis ler meu texto em voz alta.
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