terça-feira, 25 de maio de 2010

Tela em Branco




Venho tentando escrever e não consigo. A primeira frase vem. Eu imagino meu tema, penso em como o texto precisa ficar, digito algo que a fonte disse e que vai servir de título e então, pronto, travo. Eu releio o que escrevi e nada mais acontece. Preencher essa página em branco parece completamente distante. Uma vida completa de distância. Por que é sempre assim comigo? Por que às vezes uma clareza absurda, como se minha voz fosse o som mais natural do mundo fluindo por um caminho de metáforas, se tantas outras é essa seca de idéias, esse abismo; como se nunca tivesse feito isso. Rejeito tudo o que escrevo. Acho banal, clichê, melodramático e sem talento.

Detesto a palavra “talento”. Parece uma condenação. Ou tem ou não. Mas não mais do que a palavra “inspiração”. Por que não pode ser como pagar uma conta no banco? Apenas levante-se e faça. Os textos jornalísticos costumavam ser assim. Uma fórmula simples, calculada: Responda cinco perguntas. Escolha o mais importante. A primeira frase tem que pedir mais uma informação da segunda e feche o período. Abra e feche.

É quase cirúrgico. O mais importante é saber o que se deixa de fora. Então inventaram esse tal de jornalismo literário e toda a segurança foi por água abaixo. Agora é uma questão de criação, de sensibilidade. É muito difícil fazer algo contra a vontade se muito do seu eu tem de estar presente na coisa. Mas por que eu não quero? Sempre foi o jornalismo literário, sempre foi. Sempre foi sentir as coisas, contar histórias e se deslumbrar. Sempre foi dar vazão a esse caminhão desgovernado que sou por dentro.

É tão frustrante não escrever, é como se eu fosse um guerreiro que não batalha, um médico que não cura. Li o que preciso, sei o que preciso. Então escreva! Pelo amor de deus, não deve ser tão difícil assim, nem é tão especial assim, é só colocar uma palavra atrás da outra, você não precisa ser o próximo Dostoyévski, seu pretensioso! Você mal tem coragem de soletrar Dostoyévski sem checar no Google. Seja coerente.

Só preencha sua página. Foi o conselho que você recebeu, Ronan: Preencha o espaço em branco.

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