segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Branco

Tiravam a roupa assim que esgotavam as palavras. Não levava muito tempo. O gesto não era exatamente automático; havia uma excitação genuína no primeiro momento, enquanto as peças caiam pelo chão e revelavam a pele. Mas o que se seguia a isso era um certo silêncio, uma certa qualidade do silêncio, que indicava que ainda não queriam estar completamente nus. Queriam continuar se despindo. A excitação era isso. Queriam continuar tirando peças infindáveis de roupas, trezentas camisas, quatrocentos jeans desbotados e ridiculamente apertados, treze pares de meias, quinze cuecas, vinte cuecas, cinqüenta cuecas, cento e oitenta e duas cuecas. Todas as cuecas do mundo até acabar aquela angústia. Até estarem livres dessa eterna pergunta sem rosto.

É aqui que queríamos estar?

O sexo era performático. Bonito. Cheio de músculos. Um sexo moderno. Eram manequins completamente desprovidos de pêlos ou cheiros. Sem fluidos. As bocas secas, as mãos rígidas. Esganavam-se quando tentavam se abraçar. Eram deuses. Pensavam estamos na moda. Eram a moda. Sorriam e, olhando para os corpos um do outro, aumentavam a potência. E então ele vinha. Ansiado, desejado. Esse último líquido ainda permitido, mesmo que só fetichizado. Esse tema de misterioso escrutínio nas piadas populares. Símbolo de dominação, símbolo do nirvana.

Escorria pela pele lustrosa como mármore. Riam-se dele, satisfeitos. Sem derrotas, sem vitórias. Satisfeitos. Então, ironicamente, um deles o espalha com a mão cheia pela barriga delineada do outro. Confirmando sua satisfação para a plateia inexistente. Foi perfeito, ele sussura. Perfeito.

Um comentário:

Jefferson Reis disse...

Não é assim que eu gosto que seja, quer dizer, acho tão chato essa coisa de beleza padrão, pessoas manequins. Estar na moda é ser assim? O texto foi muito bem escrito, parabéns.