segunda-feira, 5 de julho de 2010

A guarda

Pouquíssimas pessoas entendem o que é consolar. Não tem a ver com lições de moral ou mensagens como “Seja forte”. Tem a ver com repartir a dor para a tristeza acabar mais cedo. Tem a ver com enxergar o valor daquela dor. Quem consola não deve dizer ou insinuar que quem sofre é fraco por se deixar sofrer. Quem consola deve ver ali um herói, por mergulhar nessa tristeza até alcançar o fundo, e estender a mão para quando o outro quiser emergir, apenas esperando que não ele não se afogue. Consolar exige muita paciência. E humildade.



Enxergou-a de longe, como um borrão vermelho e laranja naquela luz. Desviou das poças d’água pelo caminho e das partes mais lamacentas do chão, brilhante, refletindo a lua. Quando começou a subir a encosta, sem poder evitar o barulho do granito rolando abaixo dos seus pés, ele já estava pronto para rendê-la em seu posto. Terminou de subir e pôs o xale dela de volta no ombro, deixando a mão se demorar um pouco mais, para dizer a ela o que queria dizer. Ela entendeu.


E começou a descer devagar, logo depois de ter enterrado o nariz na dobra do pescoço dele. Com cuidado, foi fazendo o caminho para casa, do mesmo jeito que ele o fez até ali. Acompanhou-a com os olhos e então voltou a olhar o horizonte, assim que ela fechou a porta. Preparou-se para passar as próximas horas ali, vigiando o vazio. Em guarda do luto.

Nenhum comentário: