quarta-feira, 30 de março de 2011

Tenho, antes que anoiteça, ao menos tinha (título provisório)

Esse texto surgiu de um exercício literário, digamos assim, entre eu e o Gabriel Hargreaves, o Gabo. A partir de um frase dele, ficamos os dois de construir um pequeno conto, de três parágrafos no máximo. A frase é a que está no título. Meu conto é o que está abaixo. O dele dá pra ver clicando no hiperlink. Foi muito divertido de escrever e estamos pensando em fazer disso uma prática.


Tenho, antes que anoiteça, ao menos tinha até agora pouco essa vontade louca de casar com Marcelo. Queria mesmo. Queria logo daqui a pouco, nessas próximas horas de sol com esse céu azul bem azul desse jeito que ele está. Queria a ponto de sentir a textura da toalha branca estendida na mesa de madeira clara da mãe dele, no meio do jardim que dá pros fundos. Queria a ponto de ver o vinho escorrer pela borda dos copos e formar circulos na toalha branco perolada que só se segura do vento por causa dessas taças finas. Queria a ponto de sentir a luz entre as árvores antes de qualquer um poder entrar para me contar o quanto essa bobagem toda é homo demais, bicha até pra mim, antes de qualquer um interromper o "sim".

Quando Marcelo me pediu em casamento estávamos saindo da exposição dos gordinhos colombianos. Tantos gordinhos, tanta tristeza. E, ao mesmo tempo, uma felicidade naquela gordura, uma felicidade assim gostosa engordurada. Deve ser bom ser gordinho e oleoso e engordurado assim. Deve ser bom casar com Marcelo e passar essas tardes engorduradas em galerias, comendo torradas com tomate picado com manjericão por cima e engordar e engordar e engordar. Deve ser bom não passar base nas olheiras todas as manhãs, deve ser. E usar uma daquelas roupas coloridas. Meu deus. Usar um poncho. Será que Marcelo me daria um poncho? Eu queria amar Marcelo e amar um poncho e não amar tanto meu cabelo. O fato é que Marcelo está ficando careca. Não vou dizer isso a ele, é claro. É cruel. Mas é muito triste porque ele não sabe. Talvez fosse menos triste se ele soubesse. Existe uma certa dignidade em saber que se vai ficar careca e sofrer por isso.

Mas o pior mesmo é se ele souber e simplesmente não se importar. Não sei se posso conviver com isso. É ridículo demais. Imagina eu cabeludo e Marcelo careca sem se saber careca ou sem se importar andando pelo parque. Não quero casar. Não posso ser rídiculo assim. Ele tem 25 anos, está ficando careca e quer casar comigo. Como pode? Essa com certeza não é a vida que eu quero pra mim. Eu quero ir para Montevideo e dançar nos ossos do meu avô; quero conhecer um milhão de artistas e estrelar um desfile de roupas étnicas e quero meus cabelos nas costas. Assim, exótico. Assim, livre. Mas, então, o que faço com todos aqueles gordinhos?

2 comentários:

Anônimo disse...

Já comentei no blog do Gabriel que quero participar do próximo post com tema em conjunto!

Unknown disse...

compra uma bicicleta