sexta-feira, 29 de março de 2013

Objeto adeus

Como se chamam os destroços de um naufrágio? Aquilo que flutua para longe enquanto se tenta alcançar o bote para o corpo? Como se chama o que sobra do fracasso - o estorno da aposta malograda, que se tenta trazer para o barco, envergonhado da própria ganância - ? Como se chamam os tesouros do luto?

Qual o nome dessas sobras que nos denunciam? A mesquinharia que tenta se esconder na generosidade de ofertar ainda mais para calar a dor de perder tudo; como se chamam esses objetos que agora possuo sozinho?

E os que não possuo mais? Os que perdi. Os que cedi. Os que não quis.

Qual o nome dos bens que se dividem? Qual o nome dos cd's, dos livros, das camisas dobradas, das urnas funerárias. Dos três quadros.

(como se chama que eu tenha chorado cada livro que não li, cada dedicatória, cada palavra grifada, cada rabisco e marca, e tenha dado todos eles de volta, com insistência, com falsa generosidade, com culpa e dor de não ter lido, de não ter lido até o final, de ter antecipado o final, de ter... como se chama que eu não os tenha. O nome, o nome, o nome, de cada palavra perdida, de cada batalha para entender, como se chama esse nome se não se pode pronunciá-lo, como se diz se não fala, como se pode dizer o que não se fala como se pode tentar dizer por mim e por ele como se pode dizer mais ou melhor do que já se disse se já não há mais nada para dizer se.)

Qual o verdadeiro nome de tudo isso que fica e que parte no fim de uma viagem?
Já o sei.

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