sexta-feira, 6 de maio de 2011

Homoamor

Mais que do sexo, eu sinto falta de ter um homem em casa. Percebi isso esses dias, olhando meu apartamento. Sinto falta de mais um homem. Vai ver é porque eu não sou homem o suficiente para a casa inteira. Mas acho que é só porque sinto falta de ver alguém de cuecas no domingo, olhando a geladeira, coçando a cabeça com cara de sono e concluindo que só sobrou mesmo o queijo. Eu sinto falta do cheiro de alguém ficar misturado com o meu cheiro no cheiro da casa. E dessas outras pegadas todas que a gente deixa quando mora com alguém; eu deixo livros no banheiro, deixo meias e revistas entre as cobertas, deixo a calça jeans na poltrona, porque uso a mesma durante dias. E tem quem ache isso nojento. Talvez outro cara achasse isso nojento também. Provavelmente teria um monte de outras coisas que eu acharia nojento. Sinto falta de achar alguém nojento. Não muito. Mas só o suficiente para lembrar que não somos a mesma pessoa, nem fomos criados do mesmo jeito. Só o bastante para rir. E até para se irritar um pouco e, quem sabe, aprender alguma coisa nova. Ou não aprender nada e irritar ele bastante. Tem gente que acha isso válido também. Não sei o que é isso. E tenho cada vez menos vontade de explicar, para mim ou para os outros. Se é carência - mas não ando triste -, se é doença ou se é amor, eu sei lá. Nesses últimos tempos eu já não sei dizer o que é amor. Freud diz que é narcisismo. Amar o amor. Mas não é só comigo que eu quero dormir. Pode ser que eu tenha sido criado com mulheres demais e agora sinto falta desse pedaço. Vira homem, gritavam os homofóbicos na escola. Quem sabe é isso. Nesse processo de virar homem, ficou faltando metade. Não sou homem o bastante para a minha vida. Preciso de mais um. Tem tantas palavras. Homossexualidade para dizer com quem eu gosto de fazer sexo. Homoafetividade para dizer que não é só sexo. Tem até homotextualidade para falar do que eu escrevo. Estamos sempre categorizando e até acho que isso faz sentido. Acho que é reconhecendo as diferenças que o espaço e os direitos do outro são respeitados. Não forçando o mundão num pacote que diz Olha lá como somos bonitinhos, todos iguais. Entendo isso politicamente. Mas, pessoalmente, eu olho para a minha geladeira e penso: Taí. Casar é legal. E fico feliz de o Estado reconhecer isso também.

2 comentários:

Gustavo Paiva disse...

Te enxerguei nu nesse texto. Você se despiu de todo pudor de homem que há nos homens para poder escrever algo tão forte e lindo. Sou apaixonado por você, menino.

teleny disse...

O texto é sensacional!