segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Barthes

Para Aisha


Quando me apaixono, temo que meu Amor me devore. Então me afasto. Corro do outro. A menos que seu Amor seja feroz como o meu. Um Amor pode devorar outro Amor. Imobilizam-se. Acalmam-se. Se ao outro incomodam as quedas d'água, ele nada pode. É tão frágil que parece firme e forte. Tão frágil quanto a indiferença. A fragilidade do amor é um despreparo. Está sempre desprevenido, pego de surpresa pela intensidade inesperada. O Eu te amo é uma surpresa para o amor frágil. Já a saudade incontida é um grito de sufoco. O Amor está como quem aguarda. Se extasia. Mas já esperava. Sua fera espreitava o tempo da fera do outro.

Te faço homem e mulher no que tenho de mais louco. Te faço meu sintoma de loucura. És o objeto amoroso que me denuncia.  Quando nos apaixonamos, só o que iguala nossa intensidade é que a sacia. O amor do outro, tão grave quanto o meu, me aplaca. Como me aplaca a queda d'água, a tristeza do fado, o mar. Quem não se apaixona em gravidade chama o rugido furioso do mar de barulho, não aceita ser do outro sua denuncia. Quando descubro o que me fascina no outro, já não o amo. Porque descobrir não é achar. O que se descobre é ponto final, que fecha numa forma fixa o que antes era só pontilhado.

O Amor sempre termina em tragédia ou tédio. Mas, às vezes, renasce. E é preciso acreditar no seu renascer, embora sua travessia seja imprevisível, embora algum preparo para o fim seja imprescindível. O Amor não aceita fragmentar-se; terminar sem acabar. Porque mataria sua essência de fera. E não poderia nunca mais renascer.

A cena é a seguinte: Ela se sentava sempre na beira do banco, para ouvir o Amor. Sentava com as pernas entrecruzadas, os joelhos perto do queixo, as mãos segurando os dedinhos dos pés. Sentava em pouso. Daquele banco podia saltar a qualquer momento. Nesse caso, alçaria vôo pela janela, tinha pernas longas e saltava alto. Poderia também levantar-se direto para um passo de dança, onde se reuniria em alegria na companhia da amada. Mas gostava especialmente de ficar ali sentada, para ver a outra dançar.