quinta-feira, 4 de março de 2010

Heróis silenciosos


É meio vergonhoso dizer, mas levo à sério essas teorias de auto-ajuda que dizem que você deve viver sua vida como se fosse o herói da própria história. Não que todo mundo precise sair por aí catando arquiinimigos imaginários em cada desafeto. Ou construindo relacionamentos como quem cria roteiros cinematográficos, só para movimentar a vida. Não. Quero dizer que é bonito quando alguém decide, de verdade, não ficar deitado nos trilhos, esperando para descobrir sua eficácia como quebra-molas de trem.

A gente não costuma olhar quando as pessoas fazem isso de se levantar dos trilhos. Pelo motivo óbvio: O pobre coitado que vai virar patê de gente gritando: "Socorro! Estou amarrado!", enquanto o desastre colossal corre furiosamente em sua direção é mais dramático. Ligeiramente. Vítimas seguram o público até o final. Já o sujeito que se dá conta de não estar preso em corda nenhuma é só um susto. No máximo vai ser chamado de idiota.

Esse é o motivo óbvio. O motivo não-óbvio é que a decisão de se salvar costuma ser silenciosa. Ela não precisa de plateia, porque finda em si mesma. Você se cuida para estar a salvo. Come salada para ser saudável, pratica exercícios para se sentir bem, dirige devagar para chegar à salvo. Não faz isso para ser aplaudido, para chamar atenção. Faz isso porque em algum momento decidiu que merece umas coisas legais, que pode se dar algumas coisas legais, afinal. E teoricamente essa é a ordem natural: não há nada de especial em NÃO querer virar um patê de gente. Mas, na verdade, há sim. Porque apesar do natural ser desejar ser feliz, é mais fácil não ser.

Se sentir amarrado na frente do trem é uma situação limite. Tem outras formas de virar patê, menos barulhentas e muito mais demoradas. Como aquelas pequenas torturas diárias que costumam envolver doses colossais de insegurança e desconfiança dos outros. As escapadelas, o descompromisso, as mentiras e todas, absolutamente todas as neuroses arquitetadas para se projetarem em 3D na mente. E embora esses vícios sejam dolorosos, eles são as rotas sinalizadas com plaquinhas em neon. São caminhos movimentados e bem conhecidos. Todo mundo vai por ali.

Por isso há algo de muito especial quando alguém decide fazer uma coisa nova da vida. Algo que não envolva se bater e peneirar a cada oportunidade. Não ser a mocinha abandonada ou o derrotista que não espera nada melhor do mundo. Em primeiro lugar, porque é essa atitude que evita cordas, trilhos e trens desgovernados. E afinal porque é o tipo de decisão que se toma sozinho e ninguém sabe dizer muito bem o que acontece depois. Quem sabe, não faz alarde.

Um comentário:

Gláucia Cristina disse...

Curto ensinamentos clichês de auto-ajuda. Tô seguindo vc, agora, uhaeuiah.